Não consigo quantificar a empatia que temos. A amizade de
anos que se fomenta cada vez mais. É como tu dizes, quando olhamos um para o
outro parece que estamos a olhar para um espelho, que sabemos o que o outro
está a pensar ou o que vai dizer. E, não tenho coragem para estragar isso.
À medida que o tempo passa cada vez temos necessidade de
partilhar mais coisas; não são só as saídas para a praia, para dançar,
partilhar uma bebida, uma cigarrilha, um por de sol...
Um amante é fácil de arranjar, um grande amigo não.
Mas é muito difícil de aguentar, desde as massagens na praia
às faíscas que sentimos, não nos podemos tocar que é tipo choque eléctrico, mas
como tu mesmo perguntaste “é preferível uma grande foda ou uma inigualável
amizade?”.
Pergunto-me o mesmo várias vezes, principalmente desde a
nossa ultima dança, recordas-te?
Timidamente me levaste para a pista de dança e eu não estava
à vontade para dançar Kizomba. Foste-me ensinando os passos como um verdadeiro
profissional. Gradualmente e, após imensas pisadelas, que tu desculpavas a
dizer que a culpa era tua, fui ganhando confiança e entregando à musica e às
tuas mãos.
Nos teus braços dancei 3 horas seguidas, sem cansaço, sem
tédio, gradualmente com mais entrega. Quando me perguntaste se podias tocar
mais abaixo para “atarraxarmos” ao princípio estranhei mas depois percebi o
porquê; sentir a tua anca na minha, as tuas pernas entre as minhas, a tua mão
na minha anca e coxas fez-me vibrar.
Ao princípio hesitante e depois com confiança entreguei-me
de corpo e alma. Aos poucos deixei de ver e só sentia as tuas mãos, os teus
movimentos, a música, a tua voz…
Sim, porque dizias que eu tinha nascido para aquilo e
cantavas ao meu ouvido a música “Moça Louca”. Quando abri os olhos vi que
éramos só nós mais um casal na pista e que todos olhavam para nós, não me
demoveu. Encostei-me mais a ti e acompanhei todos os teus movimentos; éramos só
um…
Quando comecei a ouvir a tua respiração ofegante e me
beijaste o pescoço senti que me ia perder, tentei-me controlar apesar de todos
os parcos pelos do meu corpo se eriçarem. Continuaste os beijos até chegares ao
canto da boca e eu já arfava mas, numa breve e lúcida consciência olhei para ti
e tu percebeste o que me ia na alma e com um beijo na testa disseste “vamos
embora antes que nos estraguemos”.
Um misto de sensações me percorreu, mas o meu lado
consciente anuiu.
Na despedida ainda hesitaste e pude perceber que estavas com
esperança que te convidasse para subir. Gagueja-mos, coisa impensável para nós,
mas o abraço e beijo foi breve, com receio praticamente não nos tocámos e cada
um foi para o seu lado.
Dança maldita que evito contigo, apesar dos constantes
convites. Espero que percebas que o corpo não é de ferro e espero não estar a
errar quando prefiro ter a tua enorme amizade do que corrermos o risco de nos
envolvermos e as coisas correrem menos bem e nos afastemos.
Mas não podemos duvidar das faíscas que sentimos no touque,
apenas as podemos evitar.
Antes uma inigualável amizade do que uma grande foda!
2 comentários:
A tua escrita dá uma tesão...
Obrigada Green Eyes. Uma boa escrita revela-se quando consegue transparecer essas sensações.
bjs
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